Hepatites virais no município do Rio de Janeiro


Apresentação

Este boletim foi elaborado em conjunto pelo Centro de Inteligência Epidemiológica (CIE) e Coordenação de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) e Área Técnica das Hepatites Virais da Coordenação das Linhas de Cuidado das Doenças Crônicas Transmissíveis (CDT) da Superintendência de Atenção Primária (SAP), ambas da Subsecretaria de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde (SUBPAV) da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio). Esta edição do boletim epidemiológico é em formato eletrônico e interativo. As hepatites virais são um relevante problema de saúde pública no Brasil e no mundo devido a sua elevada taxa de incidência, prevalência e mortalidade. Caracterizam-se por serem doenças causadas por diferentes vírus hepatotrópicos que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais distintas. Quanto à etiologia, as hepatites virais mais frequentes são causadas por cinco diferentes agentes etiológicos: o Vírus da Hepatite A (HAV), o Vírus da Hepatite B (HBV), o Vírus da Hepatite C (HCV), o Vírus da Hepatite D (HDV) e o Vírus da Hepatite E (HEV). Uma das principais diferenças das características epidemiológicas se dá pelo modo de transmissão. As hepatites A e E são transmitidas pela via fecal-oral e estão relacionadas principalmente às condições de saneamento básico, higiene pessoal, relação sexual desprotegida (contato boca-ânus) e qualidade da água e dos alimentos. As hepatites B, C e D são transmitidas pelo sangue (via parenteral, percutânea e vertical), pelo esperma e por secreção vaginal, via sexual. O Município do Rio de Janeiro (MRJ) possui uma ampla rede de Atenção Primária em Saúde (APS) com capilaridade nos diferentes territórios da cidade e que hoje coordenam o cuidado às hepatites virais realizando rastreio, diagnóstico, notificação e encaminhamento para rede de serviços especializados para manejo dos casos que necessitem de complementação diagnóstica e condução do tratamento. Este documento, em sua segunda edição, baseia-se no princípio de converter informação em ação. Utilizando dados de quatro sistemas de informação (SINAN, SIM, SIPNI e SISLOGLAB), oferece análises detalhadas que orientam a tomada de decisões e a implementação de estratégias de saúde baseadas em evidências para o enfrentamento das hepatites virais, visto que a eliminação das hepatites virais como problema de saúde pública até 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) firmado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Espera-se, portanto, que essa análise contribua para o controle e o aperfeiçoamento dos processos de cuidado das hepatites virais no município do Rio de Janeiro.


1. Panorama epidemiológico

Os dados sobre hepatites virais são atualizados semanalmente e podem ser consultados no Observatório Epidemiológico da Cidade do Rio de Janeiro (EpiRio), disponível no endereço https://svs.rio.br/epirio.


Este boletim apresenta o panorama das hepatites virais no município do Rio de Janeiro, através dos indicadores epidemiológicos e operacionais, no período de 2012 a 2024.
A taxa de incidência de hepatite A apresentou variações ao longo da série histórica, com tendência de crescimento a partir de 2021, passando de 0,5 casos por 100.000 habitantes em 2021 para 5,5 casos por 100.000 habitantes em 2024. A taxa de incidência de casos de hepatite B apresentou pequenas flutuações ao longo da série histórica, com destaque para uma queda nos anos de 2020 e 2021, quando foi registrada a menor taxa do período, com 2,1 casos por 100.000 habitantes — possivelmente relacionada aos impactos da pandemia de COVID-19 na vigilância e diagnóstico dessas infecções. A partir de 2022, observa-se uma tendência de aumento, atingindo 4,1 casos por 100.000 habitantes em 2024. A taxa de incidência de hepatite C apresentou um declínio progressivo até 2020, quando chegou a 5,4 casos por 100.000 habitantes. A partir de 2022, verifica-se uma tendência de crescimento, com aumento nos anos seguintes, alcançando 11,9 casos por 100.000 habitantes em 2024. Ao longo de toda a série histórica, o tipo C se apresentou com maior taxa de incidência entre os três tipos analisados (Figura 1.1). A tabela 1.2 apresenta número absoluto de casos confirmados de hepatites virais por ano, com predomínio da hepatite C em todos os anos analisados, seguida pela hepatite B. Os registros classificados como “Ignorado” referem-se, em sua maioria, à ausência de informação sobre o marcador laboratorial utilizado para a confirmação etiológica do caso, sendo necessário esforços de qualificação do registro da informação gerada pelas notificações. No entanto, observa-se uma melhora na qualificação dessas notificações, com redução do número de amostras classificadas como ignoradas, nos anos de 2023 e 2024, possivelmente relacionada ao fortalecimento da vigilância laboratorial e ao preenchimento dos critérios de confirmação laboratorial nas fichas de notificação. Importante destacar que a ampliação do acesso à testagem rápida, especialmente a partir de 2014, contribuiu significativamente para a identificação dos casos de hepatites virais (B e C), refletindo-se no aumento das notificações e na visibilidade epidemiológica destas infecções.

Ao longo da série histórica, os casos de hepatite A apresentam maior frequência de casos notificados nas AP 2.1, 3.1 e 3.2. Em 2024, observa-se um aumento no número de casos em praticamente todas as AP. Em relação ao perfil dos casos de hepatite A, observa-se predominância do sexo masculino ao longo de toda a série histórica. No que se refere à faixa etária, observa-se uma transição no perfil dos casos entre 2012 e 2024. Inicialmente, a maior concentração de casos ocorria em crianças menores de 10 anos e adolescentes de 10 a 19 anos. A partir dos anos seguintes, houve uma redução dos casos em menores de 10 anos e um consequente deslocamento para as faixas entre 20 e 49 anos, especialmente após a introdução da vacina contra a hepatite A no calendário nacional de vacinação infantil em 2014. Quanto à variável raça/cor, é possível identificar uma melhora na qualidade do preenchimento, evidenciada pela redução do percentual de registros classificados como “Ignorado”. Além disso, observa-se uma mudança no perfil dos casos, com diminuição da proporção de pessoas autodeclaradas pretas/pardas e aumento da proporção de brancos. A variável escolaridade ainda apresenta elevado percentual de registros ignorados, totalizando 45,3% em 2024. No entanto, observa-se uma tendência de mudança no perfil dos casos, com aumento da proporção entre pessoas com 12 anos ou mais de estudo, que passaram a representar 34,3% dos registros no último ano. Em seguida, aparecem os casos com 8 a 11 anos de escolaridade (16,1%), menos de 8 anos de estudo (3,5%) e a categoria ‘Não se Aplica’ (NSA), utilizada para crianças fora da idade escolar, com 0,8%. Surtos de hepatite A foram registrados no período, com variações tanto no número de episódios quanto na quantidade de casos envolvidos (Figura 1.3).

Os casos de hepatite B se mantiveram estáveis ao longo do período, sendo as AP 3.1, 3.3, 5.1 e 5.2 com maior número de notificações em 2024. O perfil dos casos de hepatite B apresenta predominância do sexo masculino, com maior concentração na faixa etária de 20 a 49 anos. Pode-se perceber melhora na qualidade do preenchimento da variável raça/cor, evidenciada pela redução do percentual de registros classificados como “Ignorado”. Além disso, observa-se predomínio em pessoas autodeclaradas pretas/pardas. A escolaridade ainda apresenta alto percentual de registros ignorados, com maior frequência de casos na população com baixa escolaridade, ou seja, com menos de 8 anos de estudo (Figura 1.4).

Os casos de hepatite C foram mais frequentes nas AP 3.1, 3.2, 3.3 e 5.2, com aumento no número de notificações em quase todas as AP nos últimos anos. Observa-se estabilidade na razão de sexos ao longo da série histórica, com predomínio de casos na faixa etária acima de 40 anos. É possível identificar uma melhora na qualidade do preenchimento da variável raça/cor, evidenciada pela redução do percentual de registros classificados como “Ignorado”. Há maior ocorrência de casos em pessoas autodeclaradas pretas/pardas. Quanto à escolaridade, embora ainda haja elevado percentual de registros ignorados, predominam os casos entre indivíduos com baixa escolaridade. Com relação aos marcadores sorológicos, observa-se predomínio dos casos com anti-HCV e HCV-RNA reagentes (Figura 1.5).


1.1. Taxa de incidência de hepatites virais com etiologia definida por ano, MRJ, 2012-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



1.2. Classificação etiológica dos casos de hepatites virais por ano, MRJ, 2012-2024

Ano Virus A Virus B Virus C Virus B e D Virus B e C Virus A e B Virus A e C Ignorado
2012 378 365 1357
30 6 4 220
2013 483 312 953 3 19 4 1 253
2014 302 235 750
14 1
235
2015 149 292 1057 1 19 1
369
2016 16 237 859 1 10
1 365
2017 175 239 715 2 17
1 522
2018 370 204 732 2 10 1
403
2019 63 225 578
11
334
2020 39 139 361 1 7
132
2021 33 140 562 1 5 1 2 145
2022 116 240 387 1 12
208
2023 206 200 712 2 11 2 1 132
2024 373 275 806 1 11
4 159
a Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



1.3. Casos de Hepatite A

Número de casos por AP

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Sexo

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Faixa etária

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Raça/cor

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Escolaridade

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Surtos investigados

Ano Número de surtos Número de casos
2014 34 172
2015 18 52
2016 2 5
2017 6 249
2018 17 52
2019 4 30
2020 2 6
2021 0 0
2022 10 20
2023 10 44
2024 20 59
a Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



1.4. Casos de Hepatite B

Número de casos por AP

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Sexo

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Faixa etária

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Raça/cor

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Escolaridade

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



1.5. Casos de Hepatite C

Número de casos por AP

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Sexo

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Faixa etária

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Raça/cor

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Escolaridade

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Marcadores

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2. Mortalidade

A análise sobre a mortalidade por hepatites virais é um importante indicador para expressar o risco de morte da população por essas causas específicas e reflete as condições de acesso a diagnóstico, tratamento e assistência. Os dados sobre mortalidade serão apresentados segundo distribuição temporal, características sociodemográficas e localização geográfica. A mortalidade por hepatite A manteve-se baixa ao longo do período analisado, com registros esporádicos de 1 a 2 óbitos em alguns anos, totalizando poucos eventos. Esse cenário reflete a eficácia de estratégias preventivas, como o saneamento básico e a vacinação, mas ressalta a importância da vigilância ativa diante da possibilidade de surtos (Figura 2.1.1). A taxa de mortalidade por hepatite B apresentou variação ao longo dos anos. Nos últimos anos apresentou estabilidade com taxas relativamente baixas, se mantendo em 0,1 caso por 100.000 habitantes de 2019 à 2024 (Figura 2.2.1). Em relação às características demográficas dos óbitos por hepatite B, observa-se maior frequência entre indivíduos do sexo masculino, adultos de meia idade e, sobretudo, idosos com 60 anos ou mais. Esse perfil sugere a evolução crônica da infecção adquirida em décadas anteriores, com progressão para cirrose e carcinoma hepatocelular — desfechos conhecidos da hepatite B crônica não tratada. Há predominância de pessoas autodeclaradas brancas e com baixa escolaridade entre os óbitos registrados (Figura 2.2.2). As taxas de mortalidade por hepatite B segundo AP acompanham a tendência observada no município, evidenciando uma redução consistente e sustentada ao longo dos anos. Esse resultado reflete avanços significativos no manejo da infecção crônica pelo vírus HBV e melhoria da cobertura vacinal (Figura 2.2.3). A hepatite C é a principal causa de morte entre as hepatites virais. Apesar da introdução dos antivirais de ação direta, que revolucionaram o tratamento da doença, os óbitos ainda são frequentes, especialmente entre pessoas diagnosticadas tardiamente ou com doença hepática avançada. A taxa de mortalidade apresenta tendência de queda ao longo da série histórica, indicando avanços importantes, embora ainda insuficientes para o controle do impacto da infecção crônica e de suas complicações (Figura 2.3.1). Em relação às características demográficas dos óbitos, observa-se proporção semelhante de casos entre os sexos nos anos avaliados, com maior frequência entre indivíduos de raça/cor branca, com baixa escolaridade e idade superior a 50 anos — perfil compatível com o curso silencioso e assintomático da infecção crônica (Figura 2.3.2). A taxa de mortalidade por AP acompanha a tendência decrescente observada no município como um todo, especialmente a partir de 2015 (Figura 2.3.3). A oferta de imunização, melhoria no diagnóstico e tratamento das hepatites virais na APS, além de medidas sanitárias com abordagem comunitária, são ações importantes como medidas de prevenção e estratégia de cuidado, incidindo na redução dos casos de mortalidade por hepatites virais.



2.1. Hepatite A

2.1.1. Número de óbitos por ano, MRJ, 2012-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2.2. Hepatite B

2.2.1. Taxa de mortalidade por 100.000 habitantes por ano, MRJ, 2012-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2.2.2. Características demográficas dos óbitos, MRJ, 2012-2024

Sexo

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Faixa etária

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Raça/cor

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Escolaridade

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2.2.3 Taxa de mortalidade por 100.000 habitantes por AP e ano, MRJ, 2012-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2.3. Hepatite C

2.3.1. Taxa de mortalidade por 100.000 habitantes por ano, MRJ, 2012-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2.3.2. Características demográficas dos óbitos, MRJ, 2012-2024

Sexo

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Faixa etária

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Raça/cor

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



Escolaridade

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



2.3.3 Taxa de mortalidade por 100.000 habitantes por AP e ano, MRJ, 2012-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



3. Vacinação como estratégia de prevenção

Considerando o atual cenário epidemiológico, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) vem adotando medidas de prevenção e controle com o objetivo de reduzir a morbimortalidade associada às hepatites virais. Destacam-se, nesse contexto, as hepatites A e B, por serem doenças imunopreveníveis, cuja vacinação representa uma estratégia de saúde pública eficaz e fundamental.

Para ampliar as coberturas vacinais, a SMS-RJ tem mobilizado as unidades de Atenção Primária à Saúde (APS) com ações como: sensibilização da rede, atividades de educação em saúde, campanhas de vacinação e busca ativa de crianças com esquema vacinal em atraso.

A vacina contra a hepatite A está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças menores de cinco anos, para grupos de maior vulnerabilidade, sendo nesses casos oferecida nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) e também para usuários de Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP). Embora a cobertura vacinal contra a hepatite A em crianças menores de 2 anos tenha se aproximado da meta de 95% em 2024 (Figura 3), os dados da série histórica indicam que alcançar e manter esse índice ainda representa um desafio para o município.

Já a vacina contra a hepatite B é ofertada gratuitamente pelo SUS a toda a população. No entanto, observou-se uma queda nas coberturas vacinais, em crianças menores de 1 ano, a partir de 2019, inicialmente devido ao desabastecimento nacional da vacina pentavalente, agravada posteriormente pela pandemia de COVID-19, o que resultou em índices abaixo das metas recomendadas. Em 2024, entretanto, foi registrada uma recuperação significativa na cobertura vacinal contra a hepatite B nas crianças menores de 1 ano, refletindo os esforços de retomada das ações de imunização (Figura 3).


3.1. Cobertura vacinal para Hepatite A em menores de 2 anos

Fonte: SIPNI, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



3.2. Cobertura vacinal para Hepatite B em menores de 1 ano

Fonte: SIPNI, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



4. Testagem rápida para hepatites B e C

Desde 2013, a descentralização da oferta de testes rápidos para detecção de hepatites virais na Rede de Atenção à Saúde tem fortalecido o diagnóstico oportuno da doença, promovendo maior capilaridade da estratégia no território. A atualização da Carteira de Serviços da Atenção Primária à Saúde (APS), realizada em 2021, reforçou a obrigatoriedade da oferta desses testes durante todo o horário de funcionamento das unidades, com a garantia da realização do aconselhamento pré e pós-teste como componente da estratégia de prevenção combinada. Além disso, a SMS-Rio tem investido em estratégias de acesso avançado por meio da “Vanbora” — uma unidade móvel que percorre diferentes regiões da cidade oferecendo testagem rápida para HIV, sífilis, hepatites B e C, ações de prevenção com distribuição de preservativos e vacinação contra hepatite B, além de outras vacinas previstas no calendário de vacinação para adultos. De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) das Hepatites B e C, a positividade esperada na população geral é de aproximadamente 1% para hepatite C e 0,5% para hepatite B. No entanto, os dados de testagem no município revelam taxas de positividade inferiores às estimadas, com 0,3% para hepatite C e 0,4% para hepatite B, mesmo diante do expressivo aumento no número de testes realizados ao longo dos anos (Figura 4).


4.1. Número de testes realizados para Hepatites B e C

Fonte: SISLOGLAB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



4.2. Percentaul de positividade dos testes para Hepatites B e C

Fonte: SISLOGLAB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.



5. Perspectivas e desafios

Na atualidade, o cenário epidemiológico das hepatites virais aponta para um decréscimo dos casos novos e da mortalidade. Ainda que essa perspectiva seja promissora, a identificação dos casos latentes, ou seja, o conhecimento acerca da prevalência da doença persiste como um desafio. A ampliação da oferta de testes de triagem - com vistas ao diagnóstico precoce e a presença constante dessa temática na atenção e cuidado desenvolvidos pela APS são fundamentais na superação desse problema. A ampliação e sustentação da cobertura vacinal, ações de promoção e prevenção - como distribuição de preservativos - são recursos extensamente disponíveis no SUS, de baixo impacto financeiro, capazes de contribuir para a melhora do cenário epidemiológico. Quanto à coordenação e longitudinalidade do cuidado, a articulação da rede de saúde com o referenciamento adequado dos casos e acesso ao tratamento precoce, além do seguimento clínico e laboratorial, são ações necessárias aos desfechos de sucesso dos casos e prevenção do agravamento da infecção. O arsenal terapêutico disponível proporcionou um novo horizonte no tratamento dos casos, uma vez que diminuiu o risco de desfechos primários, como cirrose e hepatocarcinoma, por meio da redução da progressão da doença com efeitos antivirais, anti proliferativos e imunomoduladores.



6. Considerações finais

A SMS-RJ planeja ações e possui uma potente rede de APS,que exerce papel estratégico como coordenadora do cuidado e principal porta de entrada do sistema de saúde. Essa estrutura é fundamental para a oferta de uma assistência centrada na pessoa e na comunidade, com potencial significativo para fortalecer as ações de prevenção, diagnóstico precoce e controle das hepatites virais.

As hepatites A e B são doenças imunopreveníveis e a atenção à cobertura vacinal da população prioritária para a hepatite A deve estar no radar das equipes da APS. A vacinação contra a hepatite B é universal e está disponível para todos. A hepatite C não dispõe de vacina, mas tem diagnóstico e tratamento disponíveis no SUS. Desse modo, a testagem é fundamental para detecção precoce e início de tratamento oportuno antes da evolução para quadros avançados de doença hepática, reduzindo a morbimortalidade pela doença. A SMS-Rio reafirma seu compromisso público com o enfrentamento das hepatites virais, por meio da ampliação do acesso, qualificação do cuidado, fortalecimento das ações de prevenção, diagnóstico e tratamento, além da promoção contínua do debate sobre o tema. Este boletim, além de cumprir a função de monitorar o cenário epidemiológico, contribui para ampliar a visibilidade do agravo ao assegurar transparência dos dados e subsidiar ações estratégicas de enfrentamento desse relevante problema de saúde pública.