Tuberculose no município do Rio de Janeiro


Apresentação

Este boletim foi elaborado em conjunto pelo Centro de Inteligência Epidemiológica (CIE) da Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) e pela Gerência da Linha de Cuidados de Doenças Pulmonares Prevalentes (GDPP), da Coordenação das Linhas de Cuidado das Doenças Crônicas Transmissíveis (CDT), vinculada à Superintendência de Atenção Primária (SAP), ambas da Subsecretaria de Promoção, Atenção Primária e Vigilância em Saúde (SUBPAV) da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio). Esta edição do boletim epidemiológico é em formato eletrônico e interativo. A tuberculose (TB) é uma doença transmissível e permanece como um relevante problema de saúde pública a nível global, nacional, estadual e no município do Rio de Janeiro (MRJ). O amplo conhecimento para o diagnóstico da tuberculose e a disponibilidade dos exames e tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são facilitadores para o controle da doença, mas existem outros determinantes que influenciam diretamente o risco de adoecimento pela doença, como os fatores ambientais, sociais e econômicos. Este documento, em sua quarta edição, baseia-se no princípio de converter informação em ação. Utilizando dados de cinco sistemas de informação (SINAN, SIM, SITE ILTB, SITE TB e GAL), oferece análises detalhadas que orientam a tomada de decisões e a implementação de estratégias de saúde baseadas em evidências para o enfrentamento da tuberculose. Espera-se, portanto, que essa análise contribua para o controle e o aperfeiçoamento dos processos de cuidado da tuberculose no município do Rio de Janeiro.


1. Panorama epidemiológico

Os dados de tuberculose são atualizados semanalmente e podem ser consultados no Observatório Epidemiológico da Cidade do Rio de Janeiro (EpiRio), disponível no endereço https://svs.rio.br/epirio.


O objetivo deste boletim é apresentar o panorama da TB no município do Rio de Janeiro através dos indicadores epidemiológicos e operacionais. Os dados mostram que desde 2022, a incidência de TB é, em média, de 103 casos a cada 100 mil habitantes (figura 1.1), com maiores incidências nas APs 1.0 (centro) e AP 5.1 (Bangu), conforme figura 1.5, sendo estas concentradoras de unidades prisionais. A maior parte dos casos são notificados pelas unidades de Atenção Primária (figuras 1.3) e representam uma população majoritariamente masculina, jovem, negra e com baixa escolaridade (figura 1.6).


1.1. Taxa de incidência por 100.000 habitantes por ano, município do Rio de Janeiro (MRJ), 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


1.2. Taxa de incidência por 100.000 habitantes por Área de Planejamento (AP) e ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


1.3. Distribuição de casos novos segundo nível de atenção da unidade notificadora por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”.


1.4. Distribuição de casos novos segundo nível de atenção da unidade notificadora por AP e ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”.


1.5. Distribuição geográfica de casos novos de tuberculose no MRJ, 2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”.


1.6. Distribuição dos dados demográficos dos casos de tuberculose por ano, MRJ, 2014-2024

Sexo

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Faixa etária

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Raça/Cor

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Escolaridade

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


2. Confirmação laboratorial da tuberculose

A confirmação laboratorial da tuberculose pulmonar deve ser preferencialmente realizada por meio do exame de escarro, utilizando teste rápido molecular para TB (TRM-TB), baciloscopia e/ou cultura. Em 2015, ano de implementação do TRM-TB, 85,9% dos novos casos de TB pulmonar foram submetidos ao exame de escarro (figura 2.1), com 70,6% de confirmação laboratorial (figura 2.3). No entanto, o percentual de casos novos com exame de escarro diminuiu progressivamente, atingindo 68,6% em 2020, mas aumentou significativamente, alcançando 90,6% em 2023, o maior valor do período (figura 2.1), com 82% de confirmação laboratorial. (figura 2.3). Esse avanço resultou em uma melhora na qualidade do diagnóstico em todas as Áreas Programáticas (AP), refletindo também o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) e a expansão da Estratégia Saúde da Família (ESF), além da ampliação do acesso aos exames. Em relação a realização do exame de cultura em casos de retratamento (Figura 2.5), o aumento em 2022 (69,4%) e em 2023 (72,3%), que superou a meta pactuada (70%), reflete avanços nos processos diagnósticos e nas ferramentas desenvolvidas para melhorar a qualidade dos dados. A redução geral no ano de 2024 reflete a existência de casos pendentes de atualização, devido ao tempo maior para liberação dos resultados das culturas - em relação à baciloscopia e ao TRM-TB -, aliado à não atualização oportuna dos dados pelos profissionais, resultando em uma qualificação tardia das informações no SINAN.


2.1. Proporção de casos novos de TB pulmonar com exame de escarro realizado, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

(Nota: Casos novos de TB pulmonar são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”.


2.2. Proporção de casos novos de TB pulmonar com exame de escarro realizado por AP, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

(Nota: Casos novos de TB pulmonar são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”.


2.3. Proporção de casos novos pulmonares confirmados por critério laboratorial, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

(Nota: Casos novos de TB pulmonar são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”.


2.4. Proporção de casos novos pulmonares confirmados por critério laboratorial por AP, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

(Nota: Casos novos de TB pulmonar são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”.


2.5. Proporção de cultura realizada em casos de retratamento de TB por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Os casos de retratamento correspondem aos que entraram no SINAN como “recidiva de TB” ou “retratamento após abandono”.


2.6. Proporção de cultura realizada em casos de retratamento de TB por AP e ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Os casos de retratamento correspondem aos que entraram no SINAN como “recidiva de TB” ou “retratamento após abandono”.


3. Coinfecção Tuberculose-HIV

A tuberculose é uma infecção que apresenta alta prevalência, consistindo na principal causa de morte por doença transmissível em PVHA (pessoas vivendo com HIV/Aids). Sendo assim, destaca-se a importância de priorizar a investigação da TB ativa e da infecção latente da tuberculose (ILTB) em todas as oportunidades de atendimento a esse grupo. Recentemente foi implementado o teste de fluxo lateral para detecção de lipoarabinomanano na urina (LF LAM) em todas as APs, sendo realizado de acordo com a contagem de linfócitos CD4+, proporcionando diagnóstico e tratamentos oportunos da tuberculose. Em relação ao panorama geral da testagem, a realização de testes para HIV manteve-se estável, com tendência ascendente a partir de 2019, chegando a 94% em 2023. Em 2024, os dados podem sofrer atualizações, devido às pendências de atualização dos registros do resultado do teste (figura 3.1). Já a coinfecção também se manteve estável, com um pequeno aumento em 2024, tanto no município quanto em todas as APs (figura 3.2).


3.1. Proporção de testagem para HIV e de coinfecção TB/HIV por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


3.2. Proporção de testagem para HIV e de coinfecção TB/HIV por AP e ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


4. Desfechos dos tratamentos de tuberculose

Em 2023, observou-se a melhor qualificação no encerramento dos casos de tuberculose (figura 4.1), com apenas 0,6% de casos não encerrados (categorizados como ignorado), o menor índice da série histórica, além de uma baixa proporção de transferências (5,1%). Este resultado reflete o aprimoramento dos instrumentos de acompanhamento e monitoramento da atenção à saúde, sendo essenciais para o planejamento de políticas públicas e decisões mais informadas. A cura é o desfecho favorável na tuberculose, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que, para o controle da doença, o percentual de encerramentos por cura em casos novos de tuberculose pulmonar com confirmação laboratorial seja igual ou superior a 85%. No MRJ, a proporção de cura dos casos confirmados por exame laboratorial atingiu 70% em 2023 (figura 4.1), com tendência de aumento nos últimos dois anos (figura 4.2) na maioria das APs, exceto nas áreas 2.1, 2.2, 3.2 e 5.2 (figura 4.3). Apesar de ainda distante da meta da OMS (menos de 5%), a interrupção do tratamento teve redução nos anos 2021 e 2022 e posterior aumento em 2023 (16%) (figura 4.4). A mortalidade também apresentou tendência de queda entre 2021 e 2023, atingindo 3,8 por 100.000 habitantes em 2023 e posterior aumento (4,5) em 2024 (figura 4.7). O perfil sociodemográfico manteve-se estável, com a maioria dos óbitos ocorrendo em homens de 50 a 69 anos, negros e com menos de 7 anos de escolaridade (figura 4.9).


4.1. Situação de encerramento dos casos de tuberculose por ano, MRJ, 2014-2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


4.2. Proporção de cura de TB pulmonar positiva por ano, MRJ, 2014-2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”, e exame de escarro positivo, seja por baciloscopia, TRM ou cultura.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta de 85% para 2024.


4.3. Proporção de cura de TB pulmonar positiva por AP e ano, MRJ, 2014-2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”, e exame de escarro positivo, seja por baciloscopia, TRM ou cultura.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta de 85% para 2024.


4.4. Proporção de interrupção de tratamento dos casos novos de TB pulmonar positiva por ano, MRJ, 2014-2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”, e exame de escarro positivo, seja por baciloscopia, TRM ou cultura.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta de 10% para 2024.


4.5. Proporção de interrupção de tratamento dos casos novos de TB pulmonar positiva por AP e ano, MRJ, 2014-2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

Nota: Casos novos de TB são os que entraram no SINAN como “caso novo”, “pós-óbito” ou “não sabe”, com forma da doença “pulmonar” ou “pulmonar + extrapulmonar”, e exame de escarro positivo, seja por baciloscopia, TRM ou cultura.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta de 10% para 2024.


4.6. Mapa de concentração de casos de interrupção de tratamento de tuberculose, MRJ, 2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


4.7. Taxa bruta de mortalidade por tuberculose por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


4.8. Taxa bruta de mortalidade por tuberculose por AP e ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


4.9. Distribuição dos dados demográficos dos óbitos por tuberculose por ano, MRJ, 2014-2024

Sexo

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Faixa etária

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Raça/Cor

Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


Escolaridade

*Fonte: SIM, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


5. Tuberculose drogarresistente (TB-DR)

A situação da tuberculose drogarresistente (TB-DR) deve ser monitorada de modo a qualificar as estratégias para a redução do risco de adoecimento por tuberculose, como a busca precoce de novos casos e o tratamento preventivo. O aumento no número de tuberculose drogarresistente (TB-DR) ocorre de forma natural, mas também é desencadeado, principalmente, devido a falhas na adesão terapêutica e sucessivas interrupções de tratamento da tuberculose sensível, caracterizando fator de impacto negativo na situação epidemiológica. Entre 2019 e 2023, o município do Rio de Janeiro registrou o maior número de notificações de TB-DR no país, representando 13,4% do total de casos nacionais (Brasil, 2024), sendo o padrão predominante de resistência à RifampIcina (figura 5.2) e o tipo de resistência primária (figura 5.3). No MRJ o número de casos TBDR em 2024 foi o menor desde 2021 (figura 5.1), chegando a 112 casos. Esse cenário destaca a necessidade de estratégias mais eficazes para garantir o controle da doença.


5.1. Casos de tuberculose drogarresistente por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SITE-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


5.2. Padrão de resistência dos casos de tuberculose drogarresistente, MRJ, 2014-2024

Padrões de resistência:

Monorresistência: resistência a um único fármaco, exceto Rifampicina.

Polirresistência: resistência a 2 ou + fármacos, exceto Rifampicina + Isoniazida.

Multirresistência: resistência a Rifampicina + Isoniazida.

Resistência extensiva: Resistência simultânea a Rifampicina e Isoniazida, a uma fluoroquinolona e a um injetável de segunda linha (amicacina, canamicina ou capreomicina).

Resistência à Rifampicina: resistência detectada somente à Rifampicina por TRM.

Fonte: SITE-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

5.3. Tipo de resistência (primária e adquirida) dos casos de tuberculose drogarresistente, MRJ, 2014-2024

Fonte: SITE-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


6. Populações especiais

Os determinantes sociais desempenham um papel crucial na incidência e nos desfechos da tuberculose. Fatores como pobreza, privação de liberdade, desigualdade social, habitação inadequada e desnutrição aumentam a vulnerabilidade à doença e dificultam a adesão ao tratamento. Como resultado, existem grupos com maior propensão à tuberculose, como a população privada de liberdade (PPL), a população em situação de rua (PSR), profissionais de saúde, imigrantes e indígenas. No município do Rio de Janeiro, após uma significativa redução até 2022, observa-se uma nova tendência de aumento entre os privados de liberdade (Figura 6.1), o que coincide com e ampliação das equipes de atenção primária prisional e o início do rastreamento em massa em algumas unidades prisionais. É evidente também o aumento de casos entre pessoas em situação de rua, enquanto se mantém a baixa incidência de tuberculose entre imigrantes e profissionais da saúde (figura 6.1). Em 2023, a SMS-Rio implantou o Programa Seguir em Frente, que consiste em diversas medidas de acolhimento, assistência social e saúde, para o cuidado e diagnóstico deste grupo populacional mais vulnerável, além do acompanhamento das equipes de consultórios na rua. Nos últimos anos houve aumento de casos novos entre beneficiários de programas de transferência de renda, com 13% em 2024 (figura 6.2), sendo a proporção de cura em 2023 menor entre a população em situação de rua, que registrou 27% de cura e 55% de interrupção de tratamento (figura 6.3).


6.1. Número de casos novos segundo populações especiais por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


6.2. Proporção de casos novos beneficiários de programa de transferência de renda do governo por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


6.3. Situação de encerramento do tratamento dos casos novos de tuberculose pulmonar segundo população especial por ano, MRJ, 2023

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


7. Estratégias para redução do risco de adoecimento por tuberculose


A redução do risco de adoecimento por tuberculose exige uma abordagem integrada, combinando estratégias individuais, comunitárias e políticas públicas de saúde. A identificação precoce de casos ativos, por meio da busca ativa de sintomáticos respiratórios, avaliação de contatos e rastreamento em grupos de risco, é essencial. Além disso, a ampliação do tratamento preventivo impacta diretamente na redução da carga da doença, gerando benefícios significativos para a saúde pública, como a diminuição dos custos associados ao tratamento e hospitalização (Dye C et al, 2023; OMS, 2023). No MRJ, a proporção de contatos de casos novos de tuberculose pulmonar confirmados laboratorialmente avaliados apresentou variabilidade ao longo do período analisado (Figura 7.1). A partir de 2021, observou-se uma tendência de melhora, embora com flutuações. No entanto, em 2024, ainda há casos passíveis de atualização, principalmente aqueles diagnosticados no último semestre e que permanecem em tratamento. Essa tendência também se reflete na maioria das APs (Figura 7.2).

A identificação de pessoas que necessitam de tratamento preventivo ou de tratamento para tuberculose ativa, quando realizada de forma eficaz, pode reduzir significativamente o risco de adoecimento e contribuir de maneira decisiva para o controle da doença na comunidade. No MRJ, observa-se o aumento de tratamentos preventivos para os casos notificados em 2024, tanto para a população geral (figura 7.4) como para PVHA (figura 7.5), sendo o esquema mais utilizado nos últimos 3 anos o 3HP (Rifapentina + Isoniazida) (figura 7.6).


7.1. Proporção de contatos de casos novos de TB pulmonar confirmada laboratorialmente avaliados por ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações. Retirados os casos em privados de liberdade.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta de 70% para 2024.


7.2. Proporção de contatos de casos novos de TB pulmonar confirmada laboratorialmente avaliados por AP e ano, MRJ, 2014-2024

Fonte: SINAN, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações. Retirados os casos em privados de liberdade.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta de 70% para 2024.


7.3. Proporção de sintomáticos respiratórios examinados por mês, MRJ, 2016-2024

Fonte: GAL-LACEN-RJ, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.

A linha tracejada vermelha corresponde à meta 1%.


7.4. Realização de tratamento preventivo de tuberculose em contatos de casos de tuberculose, MRJ, 2018-2024

Fonte: IL-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


7.5. Realização de tratamento preventivo de tuberculose em PVHIV, MRJ, 2018-2024

Fonte: IL-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


7.6. Medicamentos utilizados para o tratamento preventivo de tuberculose, MRJ, 2018-2024


Fonte: IL-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


7.7. Desfechos do tratamento preventivo de TB com Rifapentina + Isoniazida (3HP), MRJ, 2021-2024


Fonte: IL-TB, SMS-RJ. Dados sujeitos a alterações.


8. Perspectivas e desafios

Embora tenha ocorrido avanço na avaliação de pessoas com suspeita de tuberculose e aumento da busca por sintomáticos respiratórios e na detecção de casos novos confirmados, ainda persistem desafios para a manutenção e melhoria dos indicadores. As melhorias não devem ser restritas à atenção primária à saúde, mas também abranger outros setores do sistema de saúde, com fluxos bem alinhados entre unidades hospitalares e de assistência, de modo a garantir um acesso amplo ao diagnóstico e a transversalidade do cuidado para TB. O avanço no acompanhamento de pessoas com tuberculose é evidente, porém a proporção de pessoas que interrompem o tratamento ainda é elevada, o que favorece o desenvolvimento de formas resistentes da doença e, consequentemente, piores desfechos. Nesse contexto, as perspectivas incluem a melhoria do cuidado, que deve ser centrado na pessoa, com abordagens que levem em conta as vulnerabilidades desde o início. Em 2023 teve início no MRJ a estratificação da vulnerabilidade social de pessoas com TB, realizada no atendimento por assistentes sociais, corroborando na melhoria de programas educativos para redução do estigma e promoção de um ambiente de aceitação e compreensão para as pessoas afetadas, seus familiares e toda a comunidade. Além disso, a recente oferta de suporte social e auxílio-alimentação para todos os pacientes com tuberculose tem como potencial o aumento da segurança alimentar, redução de custos catastróficos e melhoria das condições de vida, diminuindo assim o risco de interrupção do tratamento. Para que a tuberculose seja eliminada como problema de saúde pública, é essencial realizar ações de educação popular em saúde voltados para prevenção, importância do diagnóstico precoce e tratamento adequado, além de garantir o tratamento preventivo, com foco especial nos contatos de pessoas com tuberculose pulmonar, em pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA), em indivíduos com doenças imunossupressoras e/ou que fazem uso de medicamentos imunossupressores. O desenvolvimento de tratamentos preventivos mais curtos e, para crianças, mais palatáveis, tende a favorecer uma maior adesão e conclusão do tratamento preventivo da tuberculose. Por fim, a articulação intersetorial, especialmente por meio da política de assistência social, com avaliações socioassistenciais e o acesso a programas sociais e políticas públicas é indispensável para a garantia dos direitos sociais e cidadania.


9. Considerações finais

A tuberculose segue como um desafio de saúde pública, exigindo tratamentos prolongados e enfrentando barreiras, apesar do acesso gratuito ao diagnóstico e à terapia pelo SUS. Fatores como pobreza, não acesso ou acesso limitado à alimentação, baixa escolaridade e precariedade no emprego impactam a adesão ao tratamento, evidenciando o papel dos determinantes sociais na doença. Avanços observados nos indicadores de diagnóstico, bem como na qualidade das informações do SINAN, têm contribuído para um diagnóstico situacional mais fidedigno, através de informações mais confiáveis e que permitem traçar a alocação de ações direcionadas de acordo com as necessidades de cada território. Ademais, um avanço importante foi a atenção especial aos privados de liberdade por meio da implantação das equipes de atenção primária prisional, o que tem contribuído para o diagnóstico precoce e a redução das interrupções no tratamento – um dos principais desafios para a eliminação da doença. No entanto, aumentar a proporção de casos curados e reduzir as interrupções do tratamento ainda são desafios que demandam um fortalecimento de fluxos complementares e colaboração intersetorial. A parceria entre a SMS-Rio e a SES/RJ tem fortalecido o Programa Municipal de Controle da Tuberculose (PMCT), promovendo ações de acordo com as necessidades de cada território, consolidando a implementação de esforços contínuos.


Relatório produzido pelo CIE - Centro de Inteligência Epidemiológica em 24/03/2025

Dados sujeitos a alterações.
Divulgação restrita pela SMS-Rio.
Não permitida a reprodução.